Leituras de Março e Abril / March and April Reads

Two women reading on a verandah at Ingham, QLD, ca. 1894-1903.
I was not able to write a post about the March reads in time, so I am joining two months into one post, March and April.

I read 3 books in March:
The Tailor of Panama | John le Carré (UK): this was quite an enjoyable read, even though spying and international intrigue are not among my favourite genres. But I had this book lying around for too long and decided I had to read it before letting it go again through Bookcrossing, which is where it came from. One of the things I found very interesting is how the core of the story remains so up-to-date: intelligence services from developed countries looking for new purposes by messing around in the third world, a small lie becoming bigger and bigger until it is appropriated by those services/governments and the media as a means to justify a military invasion... As my reading progressed, I had the creepy notion I already knew the story, and it was not from the movies, but from the news instead...
Never let me go | Kazuo Ishiguro (Japan): a great, moving read as so many others that came to me through Bookcrossing. I especially liked the way the story unfolds little by little, letting us find out explanations for the things that are puzzling us, as until almost the end of the book, there is always something about the story that we don't totally understand but is explained in the next few pages. So we just want to keep reading and reading. Ishiguro's writing is simple and gentle and yet, once in a while, we get a real punch in the stomach, but I can't really write more about it, otherwise I will spoil the reading to others who haven't yet read the book.
The Pope's Rhinoceros | Lawrence Norfolk (UK): this was a hard read for me. I was left with the idea that the author is really good at describing landscapes and moods, but very confusing when it comes to the general plot. The number of characters is huge, they come and go and some of them don't seem to add anything to the story. Quite frankly, it took me pains to finish it and I've decided I really need to drop this bad habit of not being able to give up on a book that is not bringing me joy to read.

In April, I read a little more, 7 books (some of them I had started the previous month):
La Place de l'Étoile | Patrick Modiano (France):I did not like this book at all, it was a big disappointement. I believe this was partly my fault because the story is filled with references to French literature and history that I am not familiar with. But on top of that I did not like the way the story unfolds, getting more and more bizarre until it gets to a completely preposterous ending. I do not like to judge an author by a single book, but the truth is that I am not feeling like trying Modiano again.
Uma Escuridão Bonita | Ondjaki (Angola): this is a beautiful book, half-way between prose and poetry, about a first kiss. The illustrations are almost as good as the text. I could not find an English translation of this book but I did find other translated books from the author here. If you can read Portuguese, you'll find the link to the Portuguese edition below. I will certainly read more by Ondjaki in the future, as I enjoyed this book immensely.
O Apocalipse dos Trabalhadores | Valter Hugo Mãe (Portugal): again, I could not find an English translation of this book or others from Valter Hugo Mãe, who is rapidly turning into one of my favourite young Portuguese authors, but there are a few translations into Spanish and Italian here and you can find the link to the Portuguese edition below.
Hungry Planet | Peter Menzel (USA): This is a wonderful travel, food and photography book all in one. The authors take us along a round the world trip visting families in countries from all continents and giving us an account, not just about what they eat, but also how they live, making this a travel book in the true sense of the word. The book also includes several essays from other authors about topics such as the impact of fisheries and collection of other seafood on marine resources, eating habits and health, etc. I really liked this book and the only criticism I have is on its format, small print and weight, that makes it uncomfortable to read - in fact, I resumed my reading to breakfast and snack times, opening the book flat on the table, while eating, which, well, given the theme of the book was quite appropriate after all... I believe there are other editions of this book, with different formats, which I recommend.
What I Loved | Siri Hustvedt (USA): this was another great read of the month. The story starts slowly, but I was hooked from the beginning, as it revolves around two favourite themes of mine, painting and literature. The story of friendship, love, obsession and loss is full of detail and information about books, artists and philosophy but instead of making it tedious, these add interest and the book was actually a fast read for me. The suspense towards the end has even led me to lose an hour of sleep, just to be able to finish it...
Abraço | José Luís Peixoto (Portugal): another book that apparently has not been translated into English, which is a pity because it is so good. I did find others by the same author, though: you can take a look here.
Strong-minded Women | Janet Murray (USA): this was an amazing read! The book gives us a very thorough account of what it was like to be a woman in the 19th century. Even though I knew life was not easy for women in this period, I still had a few romantic ideas which were completely demolished after reading this collection of the experiences of 19th century women as told by themselves: the book is a collection of writings by those women or interviews (with women that could not read or write) and other accounts by their contemporaries, with short introductory chapters that provide objective and impartial context. From upper to lower classes, women led difficult lives and were deprived of the most important of all rights, freedom. We owe them so much for the changes they achieved and we still have so much to do!

*  *  *

Por várias razões, não consegui escrever a tempo o post sobre as leituras de Março, por isso resolvi juntá-las às do mês de Abril. Ora aqui vão elas.

Em Março li 3 livros:
O Alfaiate do Panamá | John le Carré (Reino Unido): li este livro na versão inglesa (ver link acima) e gostei, apesar de a espionagem e a intriga internacional não se contarem entre os meus géneros preferidos. Foi um livro que chegou até mim através do Bookcrossing e que já estava cá em casa há demasiado tempo, e por isso mesmo, decidi pegar-lhe. Uma das coisas que achei mais interessantes foi a forma como o cerne do livro se mantém tão actual, apesar de ter sido publicado há já alguns anos: serviços secretos de nações desenvolvidas em busca de novos motivos que justifiquem a sua própria existência, imiscuindo-se em países em desenvolvimento; uma pequena mentira que se torna cada vez maior até que já não é possível voltar atrás, passando a ser apropriada como verdade, não apenas pelos serviços secretos, mas também pelos media, como forma de justificar uma invasão militar. Quanto mais lia, mais ficava com a sensação de já conhecer esta história, mas não de outros ivros ou filmes, e sim das próprias notícias...
Nunca me deixes | Kazuo Ishiguro (Japão): li este livro na versão inglesa (ver link acima) e gostei mesmo muito, não apenas da história, como da forma de escrever de Ishiguro, simples e suave, mas apanhando-nos desprevenidos com um murro no estômago, à medida que nos vai sendo revelada a dureza da história. É um livro que nos comove e revolta e nos deixa perturbados com uma série paralelismos possíveis entre esta ficção e a nossa realidade.
O Rinoceronte do Papa | Lawrence Norfolk (Reino Unido): não consigo encontrar nenhum link para a versão portuguesa deste livro. Eu li-o numa edição do Círculo de Leitores, que chegou até mim através do Bookcrossing. Mas, ui, como me custou terminá-lo! Se houve partes que gostei de ler, outras eram realmente intragáveis e esta falta de homogeneidade foi uma coisa que me surpreendeu e desapontou, depois de um início bastante auspicioso. Fiquei com a ideia que o autor é muito bom a fazer descrições de paisagens e ambientes, mas confuso, para não dizer caótico, na delineação do enredo geral. Várias vezes dei comigo a pensar "mas o que é que isto tudo tem a ver com a porcaria do rinoceronte?". Pior do que isso, foram passagens enormes e personagens que se sucediam uns aos outros sem que, pelo menos para mim, adicionassem nada à história, e acontecimentos e diálogos sem nexo nenhum. Enfim, é um daqueles livros que nos faz sentir um bocado estúpidos por, frequentemente, não estarmos a perceber nada do que estamos a ler. Muito irritante. Decididamente, tenho que ultrapassar este meu defeito de me custar tanto deixar a meio um livro que já comecei...

Em Abril li um pouco mais, 7 livros (alguns deles começados no mês anterior):
La Place de l'Étoile | Patrick Modiano (França): Não gostei nada deste livro. Em parte julgo que a culpa foi minha, porque a história está cheia de alusões à literatura e história de França, a maior parte das quais me passaram ao lado. Mas outra parte deveu-se ao desenrolar da história, que começou de forma mais ou menos normal - trata-se de uma de auto-biografia do personagem principal, um jovem judeu vivendo em França na época da segunda Grande Guerra - mas que depois se foi tornando cada vez mais bizarra e inverosímil, até acabar de forma bastante estapafúrdia. Enfim, não gosto de julgar um autor pela leitura de um único livro, mas a verdade é que não fiquei com grande vontade de voltar a pegar no P. Modiano.
Uma Escuridão Bonita | Ondjaki (Angola): Ainda não consegui decidir se este livro está escrito em prosa ou poesia, mas também pouco interessa, excepto que, a dar-se o caso de ser poesia, então isso significa que os meus gostos estão a mudar. Nunca fui apreciadora do género, mas este é um livro muito bonito, que dá pena quando se chega ao fim, por se ler tão depressa...
O Apocalipse dos Trabalhadores | Valter Hugo Mãe (Portugal): este foi o meu segundo livro do Valter Hugo Mãe, e agora que o terminei, acho que posso, com propriedade, declarar-me fã do autor. Apesar de ter gostado mais d'A Máquina de Fazer Espanhóis, este livro tem as mesmas características gerais que me fizeram gostar do primeiro: uma escrita aparentemente simples e que, embora às vezes crua, é sempre bonita, às vezes mesmo poética; um enredo que parte de situações do quotidiano que, à partida, não têm nada de especial, mas que lá pelo meio incluem acontecimentos menos "normais", que sem chegarem a poder considerar-se fantasia, adicionam interesse à história, e uma vontade de não parar de ler até o livro chegar ao fim. Como da outra vez, foi com pena que fui vendo as páginas passar e o fim chegar tão depressa.
Hungry Planet | Peter Menzel (EUA): este é um livro maravilhoso que combina a crónica de viagem, a alimentação e a fotografia, numa espécie de três em um. Gostei muito da forma como os autores nos dão a conhecer os vários continentes através de estadias com famílias e da observação dos seus hábitos alimentares, mostrando-nos não apenas o que consomem durante uma semana, como também a forma como obtêm os alimentos, como os cozinham, e de que maneira tudo isto encaixa no seu dia-a-dia. A única crítica que tenho a fazer prende-se com o formato (demasiadamente grande) e o peso (muito) do livro, que tornam a leitura um pouco desconfortável.
Aquilo que eu Amava | Siri Hustvedt (EUA): mais um excelente livro. A história começa devagar, mas agarrou-me desde o início, pois centra-se em dois temas que me interessam particularmente, a arte e a literatura. À volta deles, desenvolve-se o enredo, sobre a amizade, o amor, a obsessão e a perda. É um livro cheio de pormenor e informação, mas essa densidade, ao invés de o tornar fastidioso, confere-lhe um interesse maior e a leitura torna-se surpreendentemente fácil, à medida que a história se desenvolve, com um toque de suspense que me fez andar atrelada ao livro para o poder ler em cada pequeno momento livre e, já perto do fim, ficar acordada até tarde para o poder terminar.
Abraço | José Luís Peixoto (Portugal):  Foi uma bela surpresa, este abraço, depois de uma estreia muito pouco auspiciosa com este autor, há já muitos anos, com o Uma Casa na Escuridão. Não passei das primeiras páginas e se não fosse dar-se o caso de a minha mãe gostar muito deste escritor, facto que me andava a deixar muito intrigada, o mais provável seria nunca mais lhe ter voltado a pegar. Este livro é uma colectânea de textos de 4-5 páginas cada, organizados por ordem cronológica, que nos contam, numa prosa poética, episódios da infância, adolescência e idade adulta do autor. Nota-se que alguns são mais reais, outros evidentemente ficcionados, mas em qualquer dos casos sente-se uma grande honestidade naquilo que é escrito e vê-se que quem escreve tem um prazer evidente em o fazer, e, mesmo quando brinca com as palavras, consegue fazê-lo sem artifícios. Um belo abraço, sim senhor.
Strong-minded Women | Janet Murray (USA): gostei muito deste livro, que nos mostra, de uma forma muito completa, o que era ser mulher no século XIX - nada fácil, independentemente da classe social. Apesar de já ter, de antemão, uma ideia disto, ainda alimentava algumas ideias românticas acerca da vida nesta época, que foram completamente arrasadas após a leitura deste livro. A verdade é que me sinto privilegiada por viver nesta época e neste país, e fiquei a sentir uma dívida de gratidão para com estas mulheres, cujas vidas e acções permitiram as mudanças que nos conduziram à liberdade de que hoje usufruímos, ainda que continue a haver um grande caminho a percorrer!

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